As vezes eu sinto que eu não devia mais ter esperança.
Depois de brincar tantas vezes de olhos vendados na pontinha do precipício e despencar do alto sem ter o menor controle para parar ou diminuir a velocidade da queda, é difícil acreditar nas pessoas que estavam comigo lá em cima. Me prometendo que eu podia confiar.
Eu não quero achar alguém ou algo que seja capaz de me curar. O que eu quero mesmo é encontrar uma pessoa que não me machuque mais.
E falo isso em praticamente todos os âmbitos da vida.
Mas se tem uma coisa que a gente faz é criar expectativas baseadas em algo (a outra pessoa no caso) em que não temos o menor controle sobre o resultado.
É insano. Mas a gente faz isso o tempo todo. E como é frustrante e dolorido quando frustram nossas expectativas. Sentimos como se a decepção nos pegasse de surpresa. Como se a pessoa não tivesse o direito de fazer nada daquilo.
E dói. Como doi.
Imagino que provavelmente eu tenha arruinado muitas expectativas também…
Mas a sensação de angústia, tristeza, esvaziamento nas traições que eu vivi (e aqui falo de lealdade e não somente fidelidade) já me fizeram pensar muitas vezes porque a vida achava que eu merecia aquilo. De novo, e, de novo. Tantas vezes.
Hoje eu escolho acreditar que é só alguma forma que a vida arranjou de fazer valer o meu destino, ter os aprendizados necessários e cumprir a missão.
Mas confesso que o que sinto as vezes é Exaustão.
Exaustão de entregar tanto e no final estar vazia. Exaustão pela falta de fôlego por tantas ondas seguidas me alcançando, exaustão de tantos buracos abertos.
Aprendi que nem o mundo nem ninguém vai parar por conta da sua dor.
Quantas vezes você já ressuscitou mesmo estando sem forças?
Só assim para descobrir que o seu coração é mais forte do que você imagina.
Por isso, aos poucos estou me refazendo. Me reconstruindo das lesões causadas no meu passado.
Danos que serão para sempre meus, pois o meu coração não precisa esquecer para ser curado.
Cada ferida e cada dor ainda vivem dentro de mim. Intimamente fazem parte de quem eu sou agora.
Eu não posso anular os estragos que já foram provocados em minha vida. Eles funcionam como uma espécie de guia para a minha alma.
São a base para sempre me lembrar do que eu era capaz, de onde me deixei, daquilo que fizeram comigo e para onde eu não devo mais voltar e para onde eu devo ir a partir de então.
As feridas me fizeram mais forte, diferente. É no deserto que as maiores transformações acontecem.
La está toda a experiência para sobreviver sob o sol escaldante, o frio congelante, a fome, a sede e a solidão.
Ao passar por isso vc não tem outra alternativa alem de ser forte para buscar opções de sobrevivência e sair de la.
Eu passo pelo deserto, mas não preciso fazer de la minha morada.
O que não me matou mudou a forma como eu levo a vida e alterou a maneira como eu encaro o mundo.
Mas não deve mudar a minha essência.
Eu escolho continuar entregando o melhor que eu tenho.
E eu acredito fortemente que as experiências boas e com certeza as doloridas também, me fizeram alguém melhor ainda.
Mas pra isso precisa ter muita coragem.
Coragem de continuar sendo leve, de se permitir ser vulnerável, de manter o coração aberto para o amor, depois de nem saber o que é isso, é uma tarefa que necessita de muito autoconhecimento, empatia, fé e amor próprio.
Almas boas não são as puras, perfeitas, inocentes ou tolas. Na verdade, almas boas são aquelas que estiveram no deserto, conheceram a morte, o fim, a dor, o ódio, a ilusão, o engano, a traição, a sensação de insuficiência, o desespero, a desesperança, e, ainda assim, não foram contaminadas pela amargura de perder o amor em sua essência.
Pessoas que foram atingidas pelo pior que existe no mundo e não apodreceram com ele são pessoas que realmente sabem do poder curativo e libertador do amor, em essência.
Óbvio que as vezes me questiono pq tanta coisa acontece comigo, porque há tanta maldade. As vezes tenho bastante dificuldade de entender que o outro feriu pq queria ferir mesmo… mas eu ainda assim escolho permanecer fiel a mim e ao que eu acredito ser o melhor pra mim e para o mundo.
O mundo já está sujo demais para que eu jogue mais lixo.
Quando você entende o poder do amor (por vc e pelos outros), o poder avassalador da empatia e aprende a se perdoar e se conhecer para aceitar que fez o melhor que pôde, Eu acredito que é mais desconfortável pagar o mal com o mal do que permanecer fiel a si mesmo e entender que o que o outro te da é sobre ele e não sobre você.
Eu sei que muitas vezes as pessoas se aproveitam desse pensamento contrário ao que recebemos e aprendemos.
Eu sei que pagamos um preço por isso.
Mas lá no final. No final mesmo… nos últimos minutos… como você quer ser lembrado? Do que você acha que vai lembrar? Dos problemas? Do que te fizeram?
Não.
Pode ter certeza.
Você vai lembrar do quanto a vida pode ser maravilhosa, das coisas que você viveu e das pessoas que passaram pela sua vida e a transformaram para melhor.
Então eu queria que você se permitisse sentir a dor, a mágoa, a lamentação, o arrependimento… emoções estão aí para serem sentidas. Mas não faça morada nelas.
Perdoe e se perdoe. Perdoar não é voltar a ter isso na sua vida. Perdoar é deixar ir.
Perdoar é ressignificar o sentimento atrelado ao fato ou a pessoa.
No final é só vc com você mesma.
E você é responsável por construir a sua história, que aliás já demanda energia suficiente para você desperdiçar com o que não deveria fazer diferença na sua vida.
O carma, ou a lei do retorno, é implacável.
E você não é juiz da vida para determinar o que é justo ou não. Quem merece ser mais ou menos feliz. Quem merece conquistar mais ou menos coisa.
Cada um está no próprio momento de evolução. E não é tarefa sua avaliar isso.
Sua tarefa é criar a sua história da maneira mais linda e divertida possível.
Investir tempo, emoções e energia da SUA história. Se fazer feliz. Se amar. Se cuidar. E… viver… da maneira mais completa e plena possível.
Além de você estar construindo o mundo onde quer viver, construir o seu legado todos os dias atraves da sua história é o que faz a jornada valer a pena.
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